Educação Terapêutica e Terapias Integrativas

Epigenética: Conheça Fatores que “Desativam” Genes Ruins

A epigenética é uma área da ciência relativamente nova. Através de pesquisas, estudos na área têm demonstrado a capacidade de desligar os “genes ruins” – principalmente relativo a doenças genéticas e hereditárias. A medicina moderna está agora estudando como modificar a atividade do DNA a fim de impulsionar nossos “genes bons”, aqueles que contribuem para nossa saúde integral. 

A epigenética é uma área dentro da biologia que estuda o conjunto de reações químicas que variam a atividade do DNA sem alterar sua sequência. Essas variações podem modular a expressão gênica, “ligando” e “desligando” certos genes. Assim, é possível determinar a possibilidade de desenvolver certas doenças, tais como diabetes, autismo ou câncer, e como consequência, direcionar formas melhores de preveni-las.

Em nosso código genético existem pequenas etiquetas químicas que aparecem e desaparecem do DNA dependendo das mudanças em nosso entorno. Entre elas, encontramos o estresse – incluindo-se aqui o estresse pós-traumático – os hábitos e padrões de comportamento, e o ambiente onde vivemos e trabalhamos.

Sendo o estresse um conjunto de reações do organismo a agressões de qualquer natureza (física, psíquica, infecciosa, ambiental, traumática, entre outras), elas são capazes de perturbar a homeostase do organismo, ou seja, a manutenção do equilíbrio do meio interno do indivíduo. Essa manutenção se dá por meio de uma série de sistemas funcionais de controle, envolvendo mecanismos fisiológicos e reações comportamentais.

Entendendo esses princípios, vemos que nosso organismo interpreta um trauma como uma agressão. O mecanismo de luta ou fuga é ativado em resposta ao estresse. Vivenciar situações de estresse de forma aguda é metabolicamente normal, fisiológico e necessário, porém quando ocorre de forma crônica – como vemos nos transtornos pós-traumáticos – torna-se prejudicial para o corpo, o emocional e a mente.

A seguir, seguem alguns fatores que podem nos ajudar a desativar os “genes ruins”, já que naturalmente essas práticas são potencializadoras dos nossos “genes bons”. Vamos inclui-las!

Atividade Física

Já se sabe que o exercício traz múltiplos benefícios à saúde. E se formos um passo além, também podemos modificar nossa expressão genética e reduzir o risco de doenças através da prática física.

Em relação ao câncer, por exemplo, os genes das células encarregadas do reparo do DNA são “desativados” por causa da metilação. A prática de esporte impede o aparecimento desta reação química e a recuperação do DNA danificado. Já no caso do diabetes, também é possível modificar a expressão genética do tecido muscular relacionado à resistência à insulina.

Casos onde ocorre a metilação do DNA também se aplicam aos desequilíbrios mentais ou estados emocionais como depressão, síndrome do pânico, esquizofrenia, psicose, traumas, entre outros. Portanto, a atividade física adaptada à realidade da pessoa com problemas psicológicos ou mentais também é uma ferramenta auxiliar dentro de um processo terapêutico.

Alimentação e Nutrição

A genética marca os primeiros anos de nossas vidas, mas depois disso os alimentos são o fator ambiental mais determinante na expressão dos genes.

Estarmos atentos ao que comemos, buscarmos o máximo possível por alimentos orgânicos (sem agrotóxicos e pesticidas) e procurarmos tornar o alimento o nosso medicamento é uma premissa de sucesso, em especial montando uma dieta que inclua nutrientes ricos em metila: abacate, brócolis, repolho, romã, entre outros, os quais contribuem para a melhoria do funcionamento de órgãos como o coração e os rins. 

As substâncias de origem vegetal que já demonstraram maior interesse neste campo são os polifenóis do chá (em especial o chá verde), a genisteína (da soja, de preferência orgânica), a curcumina (do açafrão-da-terra), sulforafano, fenil isotiocianato e indol-3-carbinol (do brócolis e da família do repolho em geral), o licopeno (do tomate, etc.), o resveratrol (de uvas, etc.), a quercetina (de alcaparras, etc.), elagitanini (de romã, etc.). Ressalte-se que são substâncias presentes em vegetais, frutas e temperos comuns em nossa alimentação.

Voltamos, portanto, ao famoso ditado hipocrático: “nós somos o que comemos”. Outra confirmação disso são os resultados de um grande estudo multicêntrico, o EPIC (EPIgenetic Compound), que, envolvendo dez nações com mais de 500.000 pessoas inscritas, estudou o efeito dos alimentos em nossa genética. Dos resultados emergiu que a nutrição é o primeiro nível de prevenção e, portanto, o uso de vegetais para fins curativos já é muito útil neste sentido.

Principais Alimentos Vegetais com Propriedades Anticâncer

  • Açafrão da terra (Curcuma longa) – rico em curcumina que possui efeitos inibitórios potentes sobre o câncer.
  • Chá verde (Camellia sinensis) -os polifenóis do chá verde,principalmente a epigalocatequina-galato (EGCG) e quercetina que são antioxidantes naturais.
  • Clorela Chlorella pyrenoidosa -é uma fonte rica em vários fitoquímicos, especialmente carotenóides e polifenóis.
  • Cascas de frutas escuras comomirtilos, amoras, jaboticaba, romã, cranberry e uvas, ricas em polifenóis como as antocianididinas e resveratrol.
  • Condimentos como orégano, cravo, pimenta preta, tomilho, alecrim,cominho, todos ricos em compostos fenólicos e terpenóides.
  • Vegetais cruscíferos – ricos em compostos fenólicos e organossulfurados como o Indol-3-carbinol, fitoquímico que tem sido indicado como um agente promissor na prevenção do desenvolvimento e progressão do câncer de mama.
  • Spirulina (Spirulina sp) – uma microalga que produz um pigmento azul antioxidante denominadoc-ficocianina com potencial ação antitumoral para o tratamento de cânceres de mama triplo-negativos.

Prática da Meditação

Ainda não existem muitos estudos que lidam com a meditação sob a perspectiva da epigenética. No entanto, esta prática milenar tem demonstrado aumentar a saúde cardiovascular, o sistema imunológico e a resistência ao estresse de forma significativa.

Dentro das Medicinas Tradicionais como a Chinesa e a Indiana (Ayurvédica), existem inúmeros estudos científicos sobre os seus benefícios. Nesse cenário, podemos incluir as práticas orientais que trabalham com a meditação ativa, como é o caso do Tai Chi, o Qi Kung, o Qi Gong e o Yoga em inúmeras de suas variações.

Uma pesquisa realizada na Universidade de Wisconsin (EUA) pela cientista PhD Perla Kaliman, mostra que as pessoas que atingem o “mindfulness” exercitam o córtex frontal, o que resulta em uma sensação de serenidade e harmonia. Se mantida a prática ao longo do tempo, os padrões genéticos relacionados ao estresse podem ser alterados.

Terapêutica e Neuropsicologia

Estudos mostram que pessoas que sofreram algum tipo de trauma apresentam maior risco de desenvolver distúrbios, como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) ou depressão. Esses distúrbios psicológicos podem ter um curso crônico, estando associados desde baixos níveis de interação social a taxas mais altas de suicídios.

Os transtornos pós-trauma podem ser caracterizados das seguintes maneiras:

  1. Re-vivência intrusiva do evento traumático na forma de sonhos recorrentes, pensamentos, sensações ou flashbacks.
  2. Evitação de potenciais pensamentos ou atividades lembrando o trauma.
  3. Entorpecimento emocional bem como alterações persistentes em humor e cognição.
  4. Estado elevado de alerta ou excitação (American Psychiatric Association, 2013).

O trauma pode ser definido como aquele que ultrapassa a usual experiência humana, algo que extrapola o limite da experiência sadia, podendo ser fruto de abuso sexual, agressão física ou emocional, negligencia, experiência pessoal que envolva testemunhar um acontecimento que envolva morte, ferimento ou ameaça à integridade física (por exemplo, morte ou doença grave de um familiar ou amigo próximo). A resposta da pessoa ao acontecimento envolve medo intenso, impotência ou horror.

Estudos apresentam que os principais genes relacionados ao trauma e à epigenética são NR3C1 e o FKBP5. Alguns pesquisadores sugeriram que a regulação ambiental da expressão do gene do receptor de glicocorticóide (NR3C1) era mediada pela interação mãe-bebê, ou seja, a prole de mães carinhosas mostrou um aumento na taxa de expressão de NR3C1 e um nível mais baixo de metilação.

McGowan (2009) apresentou análises dos cérebros de suicidas com histórico de maus-tratos na infância, cujos resultados mostraram níveis mais altos de metilação do promotor NR3C1 em comparação a indivíduos que cometeram suicídio sem trauma na infância, e pessoas que morreram de repente ou acidentalmente.

Já o FKBP5 pode estar associado a uma resposta prolongada ao estresse, uma vez que diminui a sensibilidade dos receptores de glicocorticóides, pois a ligação dos glicocorticóides aos seus receptores é essencial para a interrupção da resposta ao estresse por meio de um feedback negativo (Binder, 2009).

Com base em diversos estudos relacionados, principalmente na área da neurociência e neuropsicologia, o uso de terapias pode ajudar a melhorar o quadro de transtornos pós-trauma. O acompanhamento adequado juntamente à análise e modificação da influência ambiental são importantíssimos, já que são esses os principais fatores responsáveis pela metilação do DNA e expressão comportamental.

Através do processo terapêutico individual ou em grupo, é possível também auxiliar o paciente na mudança gradativa de pensamentos, padrões comportamentais, hábitos e emoções através da terapia cognitiva e de terapias integrativas complementares, possibilitando um novo olhar e uma nova relação consigo em direção à superação do trauma ou encontrando uma maneira mais harmônica de convívio.

Fitoterapia e Prevenção

Considerando o uso terapêutico tradicional das plantas e os atuais conhecimentos científicos sobre a fitoquímica e epigenética, o uso racional de fitoterapia pode ser incorporado nas práticas diárias de promoção da saúde.

A fitoterapia é uma prática terapêutica que pode ser utilizada como primeira escolha e/ou de forma complementar, sempre sob a orientação de um profissional da saúde ou habilitado, com finalidade profilática, paleativa e/ou curativa.

As plantas devem ser consumidas dentro de um esquema terapêutico em plena observância da dose utilizada, frequência de uso, via de administração, forma de preparação e tempo de utilização, pois os fitoterápicos não estão isentos de toxicidade, como qualquer medicamento, e há evidências bibliográficas de reações adversas, precauções necessárias e interações medicamentosas. Ainda assim, a tolerância aos fitoterápicos é em geral maior se comparada aos fármacos.

A fitoterapia e sua relação com a epigenética geralmente estão relacionadas às pesquisas de prevenção ao câncer. A iniciação e progressão do câncer são impulsionadas por alterações genéticas causadas principalmente por causas microambientais. Estes podem gerar danos fisiológicos, muitas vezes de natureza oxidativa, que podem se propagar até afetar nosso material genético.

Alguns compostos de origem vegetal, por meio de vários mecanismos de ação, são capazes de prevenir esse processo, expressando, respectivamente, atividade desintoxicante e antioxidante, ou inibindo a formação de nitrosaminas. Podem ainda ligar-se e diluir substâncias cancerígenas no trato digestivo, alterando o metabolismo hormonal (como é o caso de alguns fitoestrógenos) ou modulando eventos em telefones celulares.

Existem fitocompostos que também podem exibir uma atividade definida como “epigenética”. Pelo fato de ser uma ciência relativamente jovem, a epigenética faz parte das chamadas tecnologias OMIC (nutrigenômica, proteômica, metabolômica) e investiga aquelas alterações hereditárias da expressão gênica, em outros termos definidos como “fenótipo”, que ocorrem sem alterações nas sequências de DNA, sendo poderosos o suficiente para regular a dinâmica da expressão gênica (a informação de um gene é usada para construir um produto funcional).

As modificações epigenéticas são potencialmente reversíveis, o que torna os compostos capazes de realizá-las, particularmente atrativos e promissores no combate e prevenção de tumores. Os principais processos responsáveis pela regulação epigenética são a inibição da metilação do DNA, modificações da cromatina e regulação gênica pós-transcricional por RNA não codificante (micro-RNA).

Os resultados de inúmeros estudos indicam que a fitoterapia e os fitoquímicos para fins curativos pode ser útil. Ao usar extratos vegetais concentrados e titulados em compostos, é possível complementar e integrar adequadamente uma dieta incorreta, protegendo o corpo do estresse oxidativo.

Fitoterápicos: Cuidados e Precaução

Os cuidados que se deve ter ao utilizar um fitoterápico são os mesmos destinados aos demais medicamentos:

  • Buscar informações sobre o medicamento com profissionais de saúde ou profissional habilitado.
  • Informar o seu médico sobre qualquer reação desagradável que aconteça enquanto estiver usando plantas medicinais ou fitoterápicos (Há riscos de saúde na interação de fitoterápicos com medicamentos alopáticos).
  • Observar cuidados especiais com gestantes, mulheres em fase de amamentação, crianças e idosos.
  • Informar o seu médico se está utilizando plantas medicinais ou fitoterápicos, principalmente antes de cirurgias.
  • Adquirir fitoterápicos apenas em farmácias e drogarias autorizadas pela vigilância sanitária.
  • Seguir as orientações da bula e rotulagem, obtendo conhecimento com profissional habilitado para a dosagem adequada.
  • Observar a data de validade – nunca tomar medicamentos vencidos.
  • Seguir corretamente os cuidados de armazenamento.
  • Desconfiar de produtos que prometem curas milagrosas ou para várias doenças diferentes.
  • Desconfiar de produtos onde não é possível averiguar as dosagens de cada elemento da fórmula nas tabelas nutricionais comumente exigidas.
  • Problemas decorrentes de interações medicamentosas com Ginko Biloba e Hipérico (Erva de São João) são os mais comuns. Consulte um profissional antes de usá-los.

Fontes complementares:

  1. https://blogs.funiber.org/pt/saude-e-nutricao/2021/03/16/funiber-epigenetica-genes
  2. https://homeoterapica.com.br/guia-de-fitoterapicos-capsulas
  3. McGowan, P., Sasaki, A., D’Alessio, A., Dymov, S., Labonté, B., Szyf, M., … Turecki, G. (2009). Epigenetic regulation of the glucocorticoid receptor in human brain associates with childhood abuse. Nature Neuroscience, 12(3), 342–348.
  4. RAMO‐FERNÁNDEZ, Laura et al. Epigenetic alterations associated with war trauma and childhood maltreatment. Behavioral sciences & the law, v. 33, n. 5, p. 701-721, 2015.
  5. Jaenisch, R., & Bird, A. (2003). Epigenetic regulation of gene expression: How the genome integrates intrinsic and environmental signals. Nature Genetics, 33, 245–254.
  6. Binder, E. (2009). The role of FKBP5, a co-chaperone of the glucocorticoid receptor in the pathogenesis and therapy of affective and anxiety disorders. Psychoneuroendocrinology, 34(Suppl. 1), 186–195.
  7. Stansfeld, S. A., Clark, C., Rodgers, B., Caldwell, T., & Power, C. (2010). Repeated exposure to socioeconomic disadvantage and health selection as life course pathways to mid-life depressive and anxiety disorders. Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology, 46(7), 549–558.
  8. American Psychiatric Association (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders(5th ed. pp. ). Washington, DC: Author.

Por Luciane Strähuber – Consultora, Terapeuta Integrativa e Fitoterapeuta

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